Uma nova visão da floresta: o que a tecnologia vê que nós não somos capazes

 Por Catherine Torres de Almeida*

Figura 1. Fonte da imagem: https://resonon.com/content/research-systems-sp/ic_1556831311_1600x_false.jpg

Imagine que você está caminhando em uma floresta. O que você consegue perceber com seus sentidos? O cheiro de mato, o canto de pássaros e cigarras, uma leve brisa refrescante, uma explosão de verde... Se você estiver caminhando em uma mata fechada, estará em um ambiente mais escuro e mal conseguirá ver o topo das árvores. Mas se estiver em uma montanha com vista para uma floresta próxima, irá conseguir ver bem o topo das árvores, embora não possa dizer o que há por baixo delas... Conseguimos perceber muitos detalhes incríveis, mas ainda assim, nossos sentidos são limitados. E se pudéssemos enxergar o que há por baixo das árvores sem ter que entrar na mata? E se pudéssemos ter uma visão no infravermelho? Nós não podemos, mas a tecnologia de sensoriamento remoto sim.
A tecnologia está avançando muito rápido, permitindo obter informações que até pouco tempo atrás pareciam ter saído de um filme de ficção científica. As fotos obtidas atualmente com a câmera do celular são muito mais nítidas do que aquelas que eram tiradas com câmeras que precisavam de filme. Você tirava uma foto e só conseguia ver que ela estava horrível meses depois, quando mandava revelar. A diferença está nos sensores da câmera do celular que conseguem captar a luz refletida pelo ambiente e armazená-la em uma imagem digital de alta resolução. Saiu com o olho fechado? É só apagar a foto.
Se você usar então uma boa câmera fotográfica poderá obter uma bela foto da floresta e guardá-la como lembrança daquele momento, mas não será muito diferente do que você consegue ver com seus próprios olhos. Se você colocar esse sensor em um drone, helicóptero ou até mesmo em um satélite, terá uma visão bem mais ampla, o que pode ser muito útil para o mapeamento de uma área, por exemplo. Mas ainda assim, esse sensor estará captando luz visível, as cores que você já consegue enxergar.

Figura 2. O espectro da radiação pode ser dividido segundo o comprimento da onda. A região que nossos olhos conseguem perceber, o “espectro visível”, é uma porção bem pequena do espectro da radiação. Fonte da imagem: https://www.infoescola.com/fisica/espectro-eletromagnetico/

No entanto, com o avanço da tecnologia, novos sensores têm surgido, permitindo enxergar bem além da nossa capacidade e com altíssima resolução. Por exemplo, sensores que conseguem captar radiação em várias faixas do espectro visível e também do infravermelho, gerando como resultado não apenas uma foto colorida, mas centenas de imagens com informações diferentes. Esses sensores de altíssima resolução espectral (que conseguem perceber várias regiões do espectro da radiação), são chamados de hiperespectrais. As imagens hiperespectrais podem ter várias aplicações florestais, como a detecção de vegetação sob estresse hídrico, a quantificação de propriedades químicas (como concentração de clorofila) ou a identificação de algumas espécies arbóreas.
Figura 3. Um sensor hiperespectral produz centenas de imagens em várias faixas do espectro eletromagnético. Fonte da imagem: https://mundogeo.com/2004/08/23/sensoriamento-remoto-hiperespectral/
Outro tipo de sensor de última geração é o LiDAR, da sigla em inglês Light Detection And Ranging. Esse sensor emite feixes de laser, fazendo um verdadeiro escaneamento da superfície. Seu resultado é uma “nuvem de pontos” que proporciona uma visão da floresta em 3D. A partir desses dados, é possível, por exemplo, obter a altura de uma árvore ou calcular a densidade do sub-bosque.
Figura 4. Exemplo de visualização gerada por um sensor LiDAR a bordo de um helicóptero. Fonte da imagem: da autora
Essas tecnologias avançadas de sensores remotos possibilitam uma nova visão da floresta, abrindo um leque de opções de aplicações para a pesquisa e o monitoramento florestal. Além disso, se combinarmos as informações derivadas desses diferentes sensores podemos ter uma compreensão ainda maior das nossas florestas. Não se trata de ficção científica, essa já é uma realidade na ciência brasileira. Basta sabermos usar essas informações com sabedoria para conservarmos nossas florestas, possibilitando assim que as futuras gerações possam não só ver essas imagens super legais, mas também desfrutar de uma caminhada no interior de uma floresta e perceber a plenitude de seus próprios sentidos. --- *Bio: Catherine Torres de Almeida é engenheira florestal, bióloga, doutora em Sensoriamento Remoto e pós-doutoranda do projeto NewFor. Foi vencedora do Prêmio Capes-Natura por desenvolver um trabalho científico sobre a combinação de dados de sensoriamento remoto hiperespectral e LiDAR para a estimativa da biomassa da floresta Amazônica.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Por que não devo chamar a Mata Atlântica de bioma?

A importância da conservação e restauração de nascentes

Introdução ao Novo Código Florestal (NCF) e Lei de Proteção da Mata Atlântica (LMA)