MapBiomas

por Marcos Rosa*

O MapBiomas é uma iniciativa do SEEG/OC (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) que tem como objetivo produzir o Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra do Brasil através de uma rede colaborativa com especialistas nos biomas, usos da terra, sensoriamento remoto, SIG e ciência da computação. A iniciativa utiliza processamento em nuvem, imagens Landsat e classificadores automatizados desenvolvidos e operados a partir da plataforma Google Earth Engine (Figura 1).


Figura 1 – Plataforma MapBiomas https://mapbiomas.org/


A Coleção 4.1 do Bioma Mata Atlântica revela que existem aproximadamente 28 milhões de hectares de formações florestais, o que corresponde à 25,5% da área do Bioma. Considerando as perdas por desmatamento e ganhos de recuperação florestal, a cobertura florestal tem mantido uma certa estabilidade nos últimos 30 anos (Figura 2).


Figura 2 – Histórico da cobertura e uso da terra de 1985 a 2018 do Bioma Mata Atlântica


Em 2019 o MapBiomas lançou uma nova plataforma chamada MapBiomas Alerta, que é um sistema de validação e refinamento de alertas de desmatamento, degradação e regeneração de vegetação nativa com imagens de alta resolução, com objetivo de gerar uma documentação para alertas de desmatamento que seja equivalente o que representa a foto da placa do carro nos autos de infração de trânsito e assim permitir maior celeridade e eficácia nas ações dos diversos órgãos usuários.

Recentemente foi lançado o primeiro Relatório Anual de Desmatamento produzido no Brasil, abrangendo todos os biomas brasileiros. Para o Bioma Mata Atlântica o GLAD (Global Land Analysis and Discovery da Universidade de Maryland) foi utilizado como referência para localizar os focos de desmatamento nas imagens de satélite diárias de alta resolução espacial (3 metros). Foi gerado um laudo para cada alerta validado e refinado onde são identificadas imagens de antes e depois do desmatamento, os possíveis cruzamentos com áreas do Cadastro Ambiental Rural (CAR), SINAFLOR (Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais), Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) e outros limites geográficos (ex. biomas, estados, bacias hidrográficas), além do histórico recente (2012 a 2018) nos mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil do MapBiomas.

Para o ano de 2019 o Bioma Mata Atlântica possui 1.390 alertas, resultando em 10.598 ha. Os alertas estão disponíveis para consulta pública no site http://alerta.mapbiomas.org/ (Figura 3).


Figura 3 – Plataforma de consulta de alertas - http://alerta.mapbiomas.org/


Uma vez validados e aprovados, várias análises espaciais são realizadas no banco de dados para sobrepor os dados dos alertas com camadas de informação territorial: Assentamentos, TIs, UCs, dados do CAR (limite das propriedades, RL, APP, nascente), Plano de Manejo Florestal, áreas embargadas e áreas com autorização de supressão vegetal. Os limites e os percentuais de sobreposição dos alertas com as informações territoriais são inseridos em laudos produzidos e publicados de cada alerta.

Para cada limite de propriedade rural identificada no CAR que intercepta um alerta refinado em área maior ou igual a 0,1 ha, é produzido um laudo contendo: o ID do CAR, a fonte do alerta, as imagens de antes e depois do desmatamento, a localização da propriedade e a localização do alerta dentro da propriedade, a localização do alerta/propriedade na UF, dados de sobreposição com informações territoriais, existência de embargo, plano de manejo ou autorização de supressão na propriedade, histórico de cobertura da área em anos anteriores (com base na Coleção MapBiomas) e memorial descritivo da área do alerta (Figura 4). No caso de alertas que não interceptam propriedades do CAR, é gerado um laudo simplificado.


Figura 4 – Exemplo de laudo produzido e publicado na plataforma


O Estado com maior área desmatada em 2019 foi a Bahia, com 3.976 hectares, seguido por Minas Gerais com 2.388 hectares e Paraná com 2.184 hectares (Figura 5). 


Figura 5 – Plataforma de consulta de alertas - http://alerta.mapbiomas.org/


Aproximadamente 60% dos alertas identificados possuem menos de 5 hectares e mais de 99% deles não possuem autorização de desmatamento registrada no SINAFLOR/IBAMA.

Dos 1.390 alertas identificados no Bioma, 116 estão localizados em Unidades de Conservação, 32 em assentamentos rurais, 14 em Terras Indígenas e 3 em áreas Quilombolas, totalizando 165 alertas (12% do total). 

Durante o segundo semestre de 2020 os novos alertas serão atualizados mensalmente e disponibilizados na plataforma de maneira pública, gratuita, auditável e transparente. A articulação com o IBAMA, Secretarias Estaduais do Meio Ambiente e Ministério Público, tanto federal quanto estaduais, é essencial para garantir que essas informações sejam bem utilizadas para reduzir ou eliminar os desmatamentos ilegais na Mata Atlântica.

Nas próximas versões da plataforma serão monitoradas degradação florestal e áreas de restauração florestal, tanto de iniciativas voluntárias quanto de acordos com restauração obrigatória.


*Bio: Marcos Rosa possui graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo. Doutorando no Programa de Geografia Física da FFLCH/USP. Tem mais de 20 anos de experiência na área geoprocessamento, cartografia digital e sensoriamento remoto, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento, monitoramento e meio ambiente. Coordenador Técnico do Projeto MapBiomas, Responsável técnico pelo Atlas dos Remanescentes Florestais da SOS Mata Atlântica/INPE e responsável técnico pela ArcPlan.

Referências:

[1] http://seeg.eco.br/
[2] https://mapbiomas.org/
[3] http://alerta.mapbiomas.org/

**O texto acima é um artigo de opinião, e não representa a opinião de todos os membros do NewFor ou de seus órgãos financiadores.

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