Não subestime o poder das figuras do seu artigo

por Vanessa Sontag*

Comecei a gostar de ler aos 30 anos de idade. Até então, repetia constantemente a frase: “Eu não gosto de ler”. Quando criança, tínhamos o dia de visita à biblioteca da escola, dia em que escolhíamos um livro para ler em casa. Ao chegar à biblioteca, eu corria e folheava vários livros em busca daquele que tivesse mais ilustrações e menos texto.

Nesses últimos três meses de quarentena, li mais livros do que em todos os anos anteriores da minha vida! Tudo bem, talvez seja um exagero, mas o fato de descobrir a leitura agora me deixou muito feliz e estou tentando compensar o tempo perdido. Porém, confesso que ainda não consegui dar espaço aos livros de ficção pois prefiro assistir os filmes. Gosto de ver na tela os cenários, os figurinos e as expressões nos rostos dos atores ao ter que ler parágrafos de descrição. Pode ser que daqui alguns anos o início desse texto mude para “Comecei a gostar de ler FICÇÃO aos 40 anos de idade ao ler Harry Potter...”, enquanto isso, sigo lendo livros sobre análises históricas, políticas, econômicas e sociais na tentativa de entender o que está acontecendo no mundo.

Figuras atraem a atenção do leitor.

O fato de preferir as imagens ao texto também ocorre com algumas pessoas no momento da leitura de artigos científicos. Em um artigo publicado na sessão “How to” da Science, a autora perguntou a doze pesquisadores como eles liam um artigo. Sete comentaram que buscam pelas figuras, e três deles vão direto para elas depois de lerem o título e/ou o resumo. Um deles ainda comentou que acha que as figuras suplementares apresentam os resultados mais interessantes e curiosos! Quem diria! Aquelas que não damos valor e são quase um print screen da tela do Excel.

Esse artigo foi publicado em 2016 e de lá para cá, muitas coisas têm mudado. Cada vez mais revistas têm pedido a submissão de um Graphical Abstract (Resumos Gráficos) junto com o artigo. Os Graphical Abstracts são (ou deveriam ser), um infográfico do artigo, ou seja, as palavras transformadas em uma combinação harmônica de elementos visuais, no entanto, a maioria das pessoas utiliza um gráfico que já está no artigo ou uma foto. Já ouvi falar de revistas que pedem um vídeo sobre o artigo. Você transforma seu artigo em slides e grava sua voz explicando. Querendo ou não, a comunidade científica está fazendo com que sejamos blogueirinhxs.

Boas figuras são utilizadas em apresentações de congressos e aulas, boas figuras são compartilhadas nas redes sociais das revistas para divulgar seu artigo, boas figuras se tornam capa da edição da revista, portanto, não subestimem o poder que elas têm! Pensem em gráficos e mapas interessantes, criem uma identidade de cores e estilo no seu artigo, usem ícones para ilustrar seus tratamentos e metodologia com arvorezinhas, passarinhos, abelinhas... Porque, como disse o professor de um curso de infografia que fiz: “Não é porque a ciência é séria que ela precisa ser chata.”


Para saber mais:


How to (seriously) read a scientific paper


Artigo da figura mostrada no texto


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*Bio: Vanessa Erler Sontag é engenheira florestal, mestra em conservação de ecossistemas e amante da ciência e das artes. Em 2018 resolveu reavivar seu lado artístico e passou a elaborar figuras para divulgação científica. Lattes ResearchGate


Mini-curso de Redação Científica, onde Vanessa Sontag aborda a elaboração de figuras e gráficos a partir de 35:45.



**O texto acima é um artigo de opinião, e não representa a opinião de todos os membros do NewFor ou de seus órgãos financiadores.

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