Elas no NewFor
Desde os primórdios da história, a mulher teve seu papel na sociedade associado às tarefas domésticas. Enquanto o homem, caçador-coletor, enfrentava as mais diversas adversidades em busca de alimentos e suprimentos; a mulher focava a sua atenção diária na organização da casa, no cuidado com os filhos e na dedicação para com o marido. Entretanto, nas últimas décadas, a mulher se expôs fora do ambiente domiciliar e conquistou, por meio de vigorosos enfrentamentos e resiliências, uma posição diferente na sociedade.
Atualmente, além de donas de casa, as mulheres também podem ser trabalhadoras, empreendedoras e empoderadas; equilibrando com maestria o trabalho externo com a família. Ou, em alguns casos, elas optam em priorizar a carreira profissional ao invés do casamento, maternidade e enquadramento nas exigências sociais. E está tudo bem. A resistência e as lutas para aquisição dos direitos de equidade, permitem a conquista e a ocupação de espaços por elas. E muito comumente, são observados iniciativas e projetos que exaltam o feminino nos mais diversos ambientes, como por exemplo: Polícia Militar por Elas, Futebol por Elas, Elas por Elas. Mas, e na área florestal, como está esse processo?
Nessa conjuntura, de acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), entre os anos de 2016 e 2018, o número de mulheres engenheiras registradas no sistema evoluiu de 13.772 para 19.585, correspondendo a um aumento de 42%. Nesse sentido, particularmente na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), em 2019, houve um avanço positivo no ingresso de mulheres em alguns cursos oferecidos pela instituição. No caso de Ciências Biológicas houve um salto positivo de 70% comparado ao ano anterior, enquanto Engenharia Florestal 66% e Gestão Ambiental 60%. Vale destacar que em 2002, segundo informações da ESALQ/USP, as mulheres representavam pouco mais de 36% do total dos ingressantes na Escola e hoje somam 48%. Esses dados evidenciam o avanço das conquistas em equidade e oportunidades das mulheres no setor agrário e ambiental. Por isso, há uma necessidade latente de um olhar mais atento a elas, que vem hegemonicamente ganhando espaço nas mais diversas áreas do mercado de trabalho, dentre elas a restauração florestal.
Especialmente no NewFor, os números seguem essa tendência e apontam para um êxito feminino em relação a igualdade, de posições e tarefas, com os homens. Nesse sentido, atualmente, entre os estagiários, bolsistas de treinamento técnico e pós-graduação há uma igualdade de gênero entre os integrantes do projeto.
Nessa circunstância, em particular, seguindo a tendência exposta anteriormente, já existem ações que promovem a união e o fortalecimento das profissionais no mercado de trabalho florestal, uma delas é a Rede Mulher Florestal; que atua na discussão sobre gênero e busca construir ambientes de trabalhos mais justos e respeitosos no setor florestal. Já explicitamente na área de restauração florestal, o GT de Gênero e Diversidade que pertence ao Pacto pela Restauração da Mata Atlântica desempenha um papel fundamental na busca por uma governança mais participativa na restauração de paisagens. Dentre as iniciativas do movimento está a capacitação de diferentes grupos de interesse, por meio, por exemplo, da elaboração e divulgação de cartilhas sobre as mulheres no setor.
Dessa forma, fortalecidas por essas iniciativas de empoderamento e cientes da luta histórica das antecessoras, elas, muito em breve, estarão nos cargos de coordenação. Não competindo com os homens, mas compartilhando e trabalhando com eles por uma restauração florestal mais qualificada tecnicamente e igualitária na remuneração e reconhecimento.
Finalmente, as mulheres envolvidas no NewFor, além de promoverem a equidade de gênero no projeto, também desmitificaram o paradigma de que alguns trabalhos não podem ser desempenhados por elas, principalmente aqueles relacionados às coletas de campo. As membras do programa atuam, com competência e dedicação, desde a execução de inventários florestais, amostragem de solos utilizando trados, coleta de material botânico para identificação; e na condução de treinamentos e apresentações de palestras. No NewFor, nem a chuva, nem os pernilongos e nem os comentários machistas são capazes de parar essas guerreiras!
Confira mais do trabalho das guerreiras do NewFor!
E se precisar, elas concedem entrevista e apresentam o protocolo para a TV USP... Ou ainda, trocam pneu.
*Bio: Anani Morilha Zanini é mineira e engenheira florestal, Taísi Bech Sorrini é paulista e engenheira agrônoma, ambas são pós graduandas em Recursos Florestais na ESALQ/USP, e fazem parte do projeto NewFor. Se conheceram em uma disciplina de campo, em que, no meio de muito capim, marimbondos e poeira, surgiu uma amizade muito forte. As duas são apaixonadas por estar no meio do mato, e ser mulher nunca foi um impedimento para isso acontecer.
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taisibsorrini@gmail.com
Referências:
[1] GAZETA DO POVO. Dispara número de mulheres engenheiras no Brasil. In: Dispara número de mulheres engenheiras no Brasil. [S. l.], 22 mar. 2019. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/mercado/dispara-numero-de-mulheres-engenheiras-no-brasil-72ssuh8ksq9l4re3soboj1q2g/>. Acesso em: 14 jul. 2020.
[2] ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ". Ingressantes da ESALQ ampliam diversidade no campus. In: Ingressantes da ESALQ ampliam diversidade no campus. [S. l.], 2019. Disponível em: <https://www.esalq.usp.br/banco-de-noticias/ingressantes-da-esalq-ampliam-diversidade-no-campus>. Acesso em: 14 jul. 2020.
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