NewFor Entrevista: Henrique S. F. de Andrade (Edição Engenheiros Florestais)


Dia 12 de julho é o dia do Engenheiro Florestal. Para comemorar essa data, dedicamos todo o mês de julho para entrevistar engenheiros florestais de diversas áreas. Os entrevistados nos contam um pouquinho sobre sua trajetória, o interesse pela Engenharia Florestal e sua atuação atual. A seguir, trazemos a nossa primeira entrevista, com Henrique Sverzut Freire de Andrade, Engenheiro Florestal e Licenciado em Ciências Agrárias pela ESALQ/USP. Atualmente, Henrique é mestrando do programa de Recursos Florestais da ESALQ/USP e trabalha no Parque Sesc Serra Azul (Pantanal).
Henrique e sua família

Como você chegou onde está hoje? O que te levou a fazer engenharia florestal? Qual sua trajetória? Qual sua área de atuação?

Quando adolescente eu costumava trabalhar na fazenda que a décadas meu finado bisavô adquiriu no município de Corumbataí (SP). Lá eu fazia de tudo, trabalhava com gado, doma, café, roçava pasto, cuidava de horta. Até que meus parentes resolveram “reflorestar” o entorno de uma nascente que abastecia a sede da Fazenda e toda a rede de água dos cochos e irrigação. Porém não sabíamos como fazer isto ao certo, praticamente perdemos o plantio duas vezes em dois anos. Nesse mesmo período passei por problemas pessoais que me fizeram tomar a principais escolhas que fiz na vida. Uma das coisas que me faziam ter melhor consciência sobre o fundamento de minha existência era produzir mudas e plantar árvores. Trabalhar com plantio de árvores e mudas, se tornou uma válvula de escape para que eu pudesse me regenerar. Isso começou a ocorrer um ano antes de eu fazer o vestibular para engenharia florestal.

Henrique S. F. Andrade na Fazenda em Corumbataí (SP)

De início minha opção era medicina veterinária, mas o sentido da vida mudou drasticamente em um ano. E os tais problemas pessoais, foram milagrosamente transformados em soluções pessoais. Ao final do turbulento ano de 2009 eu estava com um pequeno viveiro de mudas nativas, um plantio de restauração a todo vapor e com toda coragem para prestar o vestibular para engenharia florestal. Passei de primeira.

Fiz a graduação na ESALQ, entrei em 2010 e conclui em 2014. Fiz diversos estágios, fui inclusive contemplado com o prêmio APAEF (Associação Paulista de Engenheiros Florestais), pela melhor combinação entre horas de estágio e desempenho acadêmico durante a graduação. Na universidade, minha vontade sempre foi atuar com florestas nativas, restauração ecológica, produção de mudas de espécies nativas; cheguei a ser coordenador do GEPEM (Grupo de Estudo e Pesquisa em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais). No Lastrop (Laboratório de Silvicultura Tropical), que na época nem tinha esse nome (não tinha nome nenhum), conheci o Prof. Pedro Brancalion que me concedeu uma vaga de estágio no IPEF, para atuar no Projeto “Silvicultura de espécies nativas do cerrado mato-grossense no Parque Sesc Serra Azul”. Me dediquei inteiramente ao projeto, era o que eu queria realmente fazer. Eu dizia a mim mesmo: “se esse projeto fosse mulher, eu casava”. Tivemos sucesso em muitas realizações, porém, me formei e tinha que abrir mão da vaga de estágio. Mas como tudo o que fazemos com amor é feito com as mãos de Deus, a equipe do IPEF me segurou, julgaram que não seria possível seguir com o projeto sem mim.

Mal concluí os créditos necessários para me formar, já solicitei antecipadamente meu atestado de conclusão de curso. Eu não podia esperar o diploma, tinha que fazer meu registro no CREA para poder abrir minha micro-empresa de consultoria em engenharia florestal, para poder trabalhar no projeto com o qual eu tanto me identifiquei. E assim se foram 5 anos de graduação, que mal pude ver passar, para então vir uma vida profissional ainda mais emocionante.

Viveiro do IPEF, mudas do projeto com o Sesc

Concluí o Projeto com o IPEF, tivemos aprovação do nosso cliente (Sesc) sem problemas. Com a ME (microempresa aberta) eu tinha autonomia para seguir prestando outros serviços. Fiz de tudo também, prestei serviços para fazendas, órgãos públicos, ONGs, empresas florestais, institutos. Atuei com inventários de florestas nativas e exóticas, plantios, projetos de regularização ambiental, projetos de silvicultura comercial; atuei no Projeto VERENA (valorização econômica de reflorestamento de espécies nativas) que me conduziu até à Floresta Amazônica no Pará, para fazer inventários em florestas nativas plantadas. Com o VERENA e as demais demandas, viajei muito. Em toda a trajetória nunca fiquei um dia sem trabalho, e sempre atuei dentro da minha profissão.

Em 2018, ingressei no mestrado, no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais, sob orientação do Professor Pedro Brancalion, onde iríamos trabalhar com os dados do projeto que executamos no Parque Sesc Serra Azul. Ainda em 2018, passei no processo seletivo para trabalhar no mesmo parque. Concluí as disciplinas e fui convocado para trabalhar na empresa detentora dos experimentos sobre os quais estou fazendo minha dissertação. Foi uma benção muito grande.

Me mudei para a Vila Bom Jardim, uma pequena vila do município de Nobres no interior de Mato Grosso. Trabalho hoje no Parque Sesc Serra Azul com tudo o que sempre quis trabalhar. Atuo hoje com restauração florestal, condução da regeneração natural do cerrado, educação ambiental, monitoramento de fauna silvestre e posso cuidar melhor das florestas que eu tanto me dediquei a implantar no projeto que me alavancou de estagiário para um profissional.

Como a Engenharia Florestal ajudou na sua carreira? Na sua atuação hoje? O que mais te motivou/motiva em trabalhar nessa área?

A Engenharia Florestal é minha profissão, eu aprendi muito durante a graduação e continuo aprendendo até os dias de hoje. A graduação foi fundamental, foi a base para todo o conhecimento que venho adquirindo. Até hoje eu possuo todos os materiais e cadernos das disciplinas que cursei, e recorri a eles diversas vezes depois de formado.

Plantio de muda da colação de grau 

Se não fosse os conceitos aprendidos no começo, minha autonomia para tomadas de decisão estaria comprometida. Embora atue como engenheiro florestal, eu não trabalho em uma empresa florestal, portanto, eu não tenho colegas floresteiros o tempo todo perto de mim. Muitas vezes, meus colegas de empresa, confiam inteiramente em mim para resolver questões florestais, minha principal segurança é estar inteirado sobre os conceitos fundamentais que aprendi na graduação.    

O que me motiva a seguir trabalhando com engenharia florestal é que eu sou engenheiro florestal. Me reconhecem assim. Quando as pessoas vêm tratar algum assunto profissional comigo, me tratam como engenheiro florestal. É minha profissão, a Vida já consolidou isso.  É comum aqui na pacata Vila de Bom Jardim as pessoas se referirem a mim como “o engenheiro do Sesc”.


Qual o impacto do seu trabalho na sociedade e no meio ambiente?

Como eu trabalho em uma unidade do Sesc (Serviço Social do Comércio) todas as minhas ações têm como norte tornar a empresa onde trabalho em uma referência sócio-ambiental. A unidade onde eu atuo não possui fins lucrativos, então, a meta é conservar e realizar serviços sociais. A meta da empresa onde trabalho é impactar positivamente a sociedade e o meio ambiente.

Juntamente com a graduação em Engenharia florestal, eu concluí a Licenciatura em Ciências Agrárias. Aqui no Parque Sesc Serra Azul, eu consegui trazer mais sentido a essa minha outra formação. Aqui também trabalho com educação ambiental recebendo alunos de escolas da rede pública de ensino. É um trabalho edificante e que com certeza auxilia na criação de uma geração que valoriza mais o Brasil, seus biomas e sua biodiversidade.


Quais os principais desafios que você enfrenta?

São diversos desafios. Conseguir ter uma vivência harmônica com todas as pessoas na vida profissional já é um grande desafio. Porém nos últimos tempos um desafio tem aflorado. Atualmente tudo está muito politizado, principalmente no ramo da conservação. O sensacionalismo tem sido tratado com mais respeito do que um movimento que seja efetivo em trazer soluções para os problemas atuais. O politicamente correto tem mais valor do que solucionar problemas. Hoje o que se vê é uma forma de imposição sobre o modo como devemos pensar. Então, ser autêntico hoje em dia é um desafio imenso.

Henrique e sua filha Alice na Fazenda em Corumbataí (SP). Ao fundo,
o plantio de restauração florestal que o conduziu à Engenharia Florestal.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Por que não devo chamar a Mata Atlântica de bioma?

A importância da conservação e restauração de nascentes

Introdução ao Novo Código Florestal (NCF) e Lei de Proteção da Mata Atlântica (LMA)