Como aumentar o sucesso dos plantios de árvores?

*Pedro H. S. Brancalion

Baseado no artigo de Karen D. Holl & Pedro H. S. Brancalion

Parece que todos os dias um político, empresário ou ONG ambientalista está anunciando uma nova iniciativa para plantar milhões, bilhões ou até trilhões de árvores. Muitos afirmam que o plantio de árvores pode resolver as mudanças climáticas, conservar a biodiversidade e fornecer renda aos pequenos agricultores. O plantio de árvores é realmente a bala de prata para resolver vários problemas ambientais e sociais?

Não. Não é. Porém, o plantio de árvores bem planejado, juntamente com outras estratégias para proteger e aumentar a cobertura florestal, pode trazer muitos benefícios para as pessoas e milhões de outras espécies que dependem das florestas. Em um novo artigo no Journal of Applied Ecology, fornecemos orientações sobre como direcionar o entusiasmo pelo plantio em larga escala de árvores de maneira a maximizar seus benefícios.

Um projeto de restauração florestal na Mata Atlântica do Brasil no momento  do plantio de árvores (esquerda) e após dois anos

1. Aborde os fatores subjacentes à degradação florestal. Ao mesmo tempo em que o número e a escala de iniciativas de plantio de árvores estão explodindo, grandes áreas de florestas existentes estão sendo cortadas, incluindo florestas maduras que nunca poderão ser substituídas por plantios de árvores. É extremamente desafiador recriar um ecossistema florestal complexo e pode levar décadas a séculos para que as florestas se recuperem efetivamente. Portanto, a maneira mais importante e eficaz de aumentar a cobertura florestal é evitar, em primeiro lugar, o desmatamento. Isso significa fornecer fontes alternativas de renda para as pessoas que protegem as florestas em suas terras, fortalecendo a aplicação da lei e promovendo intervenções de mercado em diferentes setores da economia para conter o desmatamento.

2.  Integre a tomada de decisão em todas as escalas. As inúmeras iniciativas de plantio de árvores vão desde aquelas comprometidas com o plantio de algumas árvores no quintal de uma escola até um trilhão de árvores em todo o planeta. Esses grupos são motivados a plantar árvores por diferentes razões que geralmente não estão alinhadas e podem até estar em conflito. Por exemplo, para compensar suas emissões de gases de efeito estufa, uma corporação global fornece financiamento para uma ONG ambientalista plantar árvores. Esta ONG visa fornecer habitat para espécies ameaçadas de extinção, mas não possui terras, por isso usa o dinheiro para plantar árvores nas terras de agricultores. Os agricultores, por sua vez, querem plantar árvores em áreas que não são boas para a produção agrícola e espécies que lhes proporcionem benefícios diretos, como a produção de madeira e frutas. Essas diferentes motivações para o plantio de árvores precisam ser coordenadas e equilibradas, pois sempre existirão demandas conflitantes.

Alinhando as decisões entre um fazendeiro, uma ONG internacional e uma empresa de restauração sobre onde plantar árvores nativas em uma fazenda de criação de gado na Amazônia. (Foto: Pedro Brancalion)

Algumas das muitas razões pelas quais as pessoas plantam árvores:

Conservar a biodiversidade;

Sequestrar carbono;

Fornecer sombra;

Melhorar a qualidade da água e do ar;

Aumentar espaços verdes nas cidades;

Cumprir demandas legais;

Controlar erosão;

Prática agroflorestal;

Ganhar dinheiro com madeira, frutos ou outros produtos.

3. Alinhe as estratégias de plantio de árvores diretamente às metas do projeto e planeje, maneje adaptativamente e avalie o sucesso em um período suficientemente longo. Dadas as muitas motivações diferentes para o plantio de árvores, é importante chegar a um acordo sobre as metas do projeto desde o início e, em seguida, refletir sobre várias questões acerca das melhores estratégias para alcançá-las ao longo do tempo. Por exemplo, pode ser necessário plantar árvores ou a floresta pode se recuperar por conta própria, o que acontece em alguns casos. Se for necessário plantar árvores, quais espécies teriam maior probabilidade de crescer bem em um determinado local e contribuir para alcançar as metas do projeto? Quem cuidará das árvores? Como será avaliado se o projeto foi bem-sucedido ou se são necessárias ações corretivas? Como as árvores levam muito tempo para se recuperar, a nova floresta precisará ser monitorada e manejada por pelo menos algumas décadas.

Diferentes abordagens de sensoriamento remoto (escaneamento LIDAR de avião e drone, sensores orbitais e aprendizado de máquina) para monitorar a restauração florestal. (Imagem: Daniel Papa)


4. Foque na floresta, não nas árvores. As florestas incluem muitos tipos de plantas além das árvores, como epífitas e trepadeiras, além de pássaros, mamíferos, insetos, fungos e muito mais. Essas outras espécies desempenham papéis importantes, como dispersar sementes e polinizar plantas. Portanto, não se trata apenas de plantar árvores, mas é preciso escolher uma estratégia que restaure todo o ecossistema florestal, o que é essencial para fornecer todo o conjunto de serviços ecossistêmicos que as pessoas esperam do plantio de árvores, como polinização, controle de erosão e purificação da água.

5. Coordene os diferentes usos do solo em toda a paisagem. A coordenação regional de diferentes usos do solo é fundamental para equilibrar com sucesso os diferentes objetivos dos programas de plantio de árvores. Por exemplo, algumas áreas serão protegidas e restauradas para fornecer benefícios à biodiversidade e sequestrar carbono, enquanto outras precisarão ser usadas para a produção de madeira ou culturas agrícolas. Alcançar esse equilíbrio é crucial para evitar que as atividades agrícolas interrompidas para dar lugar ao plantio de árvores sejam deslocadas para outros lugares onde possam resultar em novos desmatamentos.

6. Envolva todas as partes interessadas ao longo do processo. Com frequência, projetos de cima para baixo de grupos internacionais ou governos falham porque as árvores plantadas não são cuidadas e proprietários rurais utilizam o plantio como pastagem ou para fins agrícolas. Para que o plantio de árvores seja bem-sucedido a longo prazo, é essencial que as partes interessadas, em várias escalas, se envolvam nos processos de tomada de decisão desde o início do projeto, passando pelo planejamento, implantação e monitoramento, de forma a garantir que todos seus interesses sejam contemplados e necessidades atendidas.

Discussão em grupo com várias partes interessadas para decidir onde restaurar florestas e manter pastagens produtivas em uma fazenda colombiana. (Foto: Pedro Brancalion)

O plantio de árvores tem muitos benefícios em potencial, mas os esforços para aumentar a cobertura florestal devem ser vistos como um componente de soluções multifacetadas para problemas ambientais complexos, que devem começar pela redução do desmatamento e degradação das florestas nativas. O plantio de árvores receberá apoio financeiro, político e social sem precedentes nos próximos anos, durante a Década da Restauração de Ecossistemas na ONU e como consequência de iniciativas ambiciosas, como o Desafio de Bonn e o 1t.org. Não devemos perder esta oportunidade única com iniciativas mal planejadas que podem causar mais mal do que bem ou que desperdicem recursos sem alcançar os resultados esperados. É hora de realizar o potencial do plantio de árvores para ajudar a resolver alguns dos desafios mais prementes do nosso tempo. Para fazer isso, precisamos de entusiasmo combinado com planejamento, implementação e monitoramento cuidadosos.


*Bio: Pedro H. S. Brancalion é professor de Silvicultura de Espécies Nativas do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), e coordenador do Laboratório de Silvicultura Tropical (LASTROP) e do projeto NewFor. Seus projetos de pesquisas e projetos de extensão visam desenvolver conhecimento e tecnologia para manejar e restaurar florestas nativas tropicais de forma economicamente viável e com inclusão social, tendo em vista a coexistência equilibrada dessas florestas com a agricultura e pecuária em paisagens modificadas pelo homem. 

**O texto acima é um artigo de opinião, e não representa a opinião de todos os membros do NewFor ou de seus órgãos financiadores.

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