“Floresteiros” enclausurados: Como pesquisadores de campo têm reagido a Pandemia
*Por Leticia Bulascoschi Cagnoni
Basicamente todas as atividades do nosso laboratório precisaram
passar por uma transformação nesses quase cinco meses de pandemia e isolamento
social. Tivemos que nos acostumar com uma rotina completamente diferente: a de
escritório, na frente do computador. O trabalho não parou, muito menos a
saudade da nossa interação social e com a natureza. Então como nós, biólogos,
ecólogos, gestores ambientais, engenheiros florestais e agrônomos temos
trabalhado em pesquisa científica nesses tempos?
Ao contrário do que imaginávamos, as atividades, apesar de se
modificarem, não diminuíram. Continuamos em ritmo de trabalho intenso mesmo a
distância e experimentamos na prática o que nosso coordenador Pedro Brancalion
dizia desde o início da pandemia: “Vamos fazer deste limão uma limonada”,
quando o medo e preocupação invadiam nossos pensamentos e cronogramas. E é o
que temos feito, dentro das nossas limitações e respeitando o tempo e as pausas
necessárias de cada um.
Equipe NewFor em atividades de campo antes da pandemia |
1. 1. Deixar a casa em ordem
A primeira grande tarefa foi de organizar o que já fizemos antes:
os dados coletados, os protocolos de coleta, planilhas de dados, identificações
botânicas, processamento de amostras de solo e, de raízes que passam por
diversos tratamentos, além da compra de material que faltava. Esta com certeza
é uma tarefa muito mais complicada e trabalhosa do que parece. Como o projeto
tem ganhado escala, o tempo para deixar tudo em conformidade é enorme. Hoje
reconhecemos que se não tivéssemos tido esse tempo, e percebido a necessidade
dessa organização, teríamos problemas muito maiores no futuro.
2. 2. Treinamento Online
Precisávamos aperfeiçoar nossos conhecimentos em diversas
ferramentas e técnicas importantes na carreira de um pesquisador, então
organizamos um treinamento online que já ultrapassou 50 horas de duração,
incluindo mini-cursos de escrita científica, análise de dados no software “R”,
capacitação em reuniões online, e discussões de artigos científicos dentro das
nossas áreas de trabalho, com os autores dos artigos, ou professores associados
ao projeto NewFor. Emitimos certificados para os participantes, e todas as
aulas foram gravadas e estão disponíveis em nosso canal do YouTube, para que outras
pessoas também tenham a oportunidade de capacitação (veja os links no fim deste
texto).
3. 3. Palestras
Acredito que todo mundo já participou de pelo menos uma palestra, ou das conhecidas lives durante a pandemia, e no NewFor não foi diferente, trouxemos profissionais renomados das áreas afins ao projeto para trazerem conhecimento e tirarem dúvidas importantes nesse período. Também tivemos as apresentações de projetos de mestrado e doutorado do NewFor, onde os pesquisadores puderam apresentar as ideias e aprimorar detalhes de seus projetos, com a contribuição dos demais membros. Além disso, organizamos um workshop com palestras sobre saúde mental na pandemia, sendo ministrado por psicólogos, e outros profissionais da área da saúde. Todo este conteúdo está disponível no canal do Youtube também.
4. 4. Este blog e outras redes sociais
A necessidade de divulgação científica não é de agora, cientes da importância de expandir o conhecimento científico, temos trabalhado nisso há algum tempo, mas a pandemia nos ajudou a direcionarmos mais esforços para essas atividades: criamos redes sociais (Instagram, Facebook, canal no Youtube, este Blog) que são abastecidas semanalmente com conteúdo de qualidade ao público de fora e de dentro da universidade, e expandindo o alcance das nossas ações.
5. 5. Ajustes nos projetos individuais
Cada projeto é um mundo repleto de complexidade, e sabemos que apesar dos atrasos em muitas atividades de campo, este período tem sido fundamental para ajustes na retomada das atividades quando for possível. Tem sido um tempo de estudo e análise de hipóteses e métodos antes de serem testados, e em outros casos de olhar mais profundo para os dados e resultados obtidos e escrita de manuscritos. Um tempo de percepção e de fazer ciência onde estivermos e da forma que esteja ao nosso alcance.
Esperamos que nossas iniciativas inspirem outros grupos de
pesquisa a continuarem desenvolvendo suas atividades mesmo no contexto de
pandemia. No entanto, a sobrevivência e sanidade mental devem ser nossa
principal preocupação nesse período, e ninguém deve ser obrigado a ser
produtivo e disciplinado o tempo todo. Além disso, se temos melhores condições
de vida, ou simplesmente podemos ficar dentro de casa enquanto este furacão
passa do lado de fora, é um grande privilégio. Acreditamos que a
responsabilidade social e luta pela diminuição da desigualdade é dever de todos
nós, e a ciência e os cientistas não deveriam ficar aquém dessa batalha.
Relembrando momentos das atividades de campo antes da pandemia. |
*Bio: Leticia Bulascoschi Cagnoni é Ecóloga pela UNESP/Rio Claro. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais na ESALQ/USP e integrante do NewFor.
**O
texto acima é um artigo de opinião, e não representa a opinião de todos os
membros do NewFor ou de seus órgãos financiadores.
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