Quais são as espécies mais frequentes utilizadas na restauração da Mata Atlântica?

 *Por Matheus Santos Fuza


    No meu dia a dia é comum eu falar ou escutar “que árvore é essa?”, principalmente nos campos do Projeto NewFor. Acredito que alguma vez você também já fez esse tipo de pergunta. Mas, você sabe o porquê é importante a identificação das espécies florestais?

    Conhecer as espécies florestais é uma forma de entender as suas funcionalidades, por exemplo, há espécies voltadas para arborização urbana, madeireiras, frutíferas, dentre outras. Na  restauração florestal, as escolhas de espécies impactam diretamente o desenvolvimento e a dinâmica do plantio ao longo do tempo, ainda mais no Brasil, onde há uma grande riqueza de espécies florestais nativas que, normalmente, são separadas em grupos funcionais e sucessionais para facilitarem as suas escolhas na hora do manejo.

     Após devida introdução e sendo a Mata Atlântica – mais especificamente em São Paulo – área de atuação do projeto NewFor, deixo-te outra pergunta. Saberia me dizer quais espécies são frequentemente mais utilizadas em plantios de restauração?

    Utilizando um banco de dados disponibilizado pelo Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais (LASPEF) do programa Click Árvore – uma colaboração entre a ONG SOS Mata Atlântica, o Instituto Ambiental Vidágua e o Grupo Abril, com a ideia de que cada clique de um internauta num website específico resultasse em uma muda doada para plantio na Mata Atlântica –  conseguimos ter uma ideia de quais são as espécies mais utilizadas através de uma “nuvem de palavras”. A “nuvem de palavras” busca ilustrar as espécies mais frequentes nos plantios de restauração na Mata Atlântica, logo o tamanho dos nomes populares de cada espécie é proporcional a sua frequência de plantio.

Figura 1. Nuvem de palavras com os nomes populares das espécies mais utilizadas nos
plantios de restauração na Mata Atlântica. Opção com valores frequentes de cada espécie.


    Nesse banco de dados há 1.073 plantios de restauração florestal na Mata Atlântica, compreendido entre os anos de 2002 à 2018, sendo composta por 423 espécies arbóreas (12,7% do total de espécies arbóreas da Mata Atlântica), amostrado majoritariamente no estado de São Paulo.

Figura 2. Localização dos plantios de restauração florestal na Mata Atlântica que compõem o banco de dados usado neste estudo. Cada ponto preto representa um município, que pode contar com um ou vários plantios. Os pontos vermelhos representam a localização dos viveiros e o polígono em verde representa o limite do bioma Mata Atlântica.

Fonte: ALMEIDA, C. de & VIANI, R.A.G, 2020.


    Como podemos perceber, há uma grande variedade de espécies, cada uma com sua particularidade, forma e função ecossistêmica. E a dúvida de qual espécie utilizar em um plantio de restauração sempre é constante e debatida. Mas para trazê-los maior familiaridade com essas espécies, listei as cinco espécies mais frequentes que foram utilizadas nesses plantios. 
Figura 3. Aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolia Raddi). 
Fonte: LORENZI, 1992.

    A Aroeira-pimenteira é uma espécie originária da América do Sul que é encontrada desde plantios de arborização urbana à restauração, sendo este, utilizada por conta de seu rápido crescimento. Além disso, seus frutos, conhecidos como pimenta rosa, são comumente utilizado na culinária no mundo todo.


Figura 4. Paineira (Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna).
Fonte: EMBRAPA.

    Assim como a Aroeira-pimenteira, a Paineira pode ser encontrada na arborização urbana, mas é mais comum nos plantios de restauração, por não exigir muito dos solos. Sua presença é marcante, pois seus acúleos em seu tronco a distinguem das demais árvores, fazendo com que seja reconhecida ao “bater o olho”. 

Figura 5. Cedro-rosa (Cedrela fissilis Vell.)
Fonte: LORENZZI, 1992.

    Conhecido mundialmente por sua valiosa madeira, o Cedro rosa é uma árvore de grande porte (até 40m de altura) que se desenvolve no interior de florestas primárias, bordas de matas e também em capoeiras, sendo facilmente identificado por sua disposição foliar e o aroma liberado pelas folhas. 

Figura 6. Capinxigui (Croton floribundus Spreng.)
Fonte: LORENZZI, 1992.

    Árvore pioneira que perde as folhas na estação seca. Ocorre comumente nas bordas ou em fragmentos degradados da Mata Atlântica. Apresenta rápido crescimento, rapidamente cobrindo áreas em restauração.

Figura 7. Mutambo (Guazuma ulmifolia Lam.)
Fonte: LORENZZI, 1992.

Espécie pioneira de vida longa, o Mutambo pode ser encontrado de Roraima ao Rio Grande do Sul, em todos os estados brasileiros. Seu fruto seco é apreciado por diversas espécies de aves e primatas. Podendo ser usado inclusive para sorvetes. O chá de suas folhas e casca são usados por comunidades tradicionais para o tratamento de diferentes complicações gastrointestinais.


COLABORADORES

LASPEF – Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais surgiu em 2013. Localizado no CCA/UFSCar, Araras-SP, desenvolve pesquisa em silvicultura tropical, ecologia, manejo e restauração de ecossistemas florestais e savânicos. Também atuam com pesquisa e extensão relacionadas ao estabelecimento e à avaliação de programas, projetos e políticas públicas de restauração e conservação florestal e de pagamento por serviços ambientais. O LASPEF abriga o GESF – Grupo de Estudo em Silvicultura e Florestas, no qual alunos de graduação do Centro de Ciências Agrárias da UFSCar participam de várias atividades técnicas e científicas relacionadas à ciência florestal.

SOS Mata Atlântica - A Fundação SOS Mata Atlântica é uma ONG ambiental brasileira que atua na promoção de políticas públicas para a conservação da Mata Atlântica por meio do monitoramento do bioma, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental, comunicação e engajamento da sociedade.


REFERÊNCIAS. 

ALMEIDA, C. de & VIANI, R.A.G. Espécies arbóreas plantadas na restauração da Mata Atlântica. Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais, LASPEF-UFSCar. 2020. Disponível em https://laspef.com.br/wp-content/uploads/2020/05/Almeida-e-Viani-esp%C3%A9cies-plantadas-na-restaura%C3%A7%C3%A3o-da-Mata-Atl%C3%A2ntica_final.pdf

EMBRAPA. Árvores na agricultura: espécies.  Disponível em: https://www.embrapa.br/agrobiologia/arvores-na-agricultura/especies 

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. 352 p

 

*Bio: Matheus Santos Fuza é aluno de Graduação em Engenharia Florestal e Licenciatura em Ciências Agrárias na ESALQ/USP.  

**O texto acima é um artigo de opinião, e não representa a opinião de todos os membros do NewFor ou de seus órgãos financiadores.

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