A Profissão Ecólogo

Texto escrito por Victoria Godoi, Willian Simioni e Leticia Bulascoschi, Ecólogos formados pela UNESP Rio Claro em 2019

 

A visão holística. O fascínio pela investigação. O respeito por todas as formas de vida e pelo meio ambiente. E a resiliência para enfrentar as adversidades da carreira. Essas são apenas algumas das qualidades adquiridas durante a carreira do profissional Ecólogo, que, no dia 4 de Outubro celebra sua profissão.

O Profissional formado pelo curso de Graduação em Ecologia, o Ecólogo, é amplamente capacitado para compreender o funcionamento dos ecossistemas nas suas mais variadas escalas (do gene à biosfera), bem como para identificar e solucionar conflitos entre as ações humanas e o meio ambiente. Por sua abordagem interdisciplinar, e com forte embasamento científico, o Ecólogo pode atuar na pesquisa e ensino de novos conhecimentos, e na resolução dos problemas ambientais do Brasil e do mundo, uma vez que os estudantes são estimulados a desenvolver um perfil crítico com o objetivo maior de estudar, sob a ótica da prática científica, a organização e funcionamento da natureza frente às crises ambientais.

No Brasil, o primeiro Curso de Graduação em Ecologia foi implantado em 1976, no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Rio Claro-SP. E no decorrer dos anos, outras universidades brasileiras seguiram o exemplo da UNESP, fundando cursos de Graduação em Ecologia nos Estados de Goiás, Rio Grande do Norte, entre outros. Além disso, através dos cursos de Pós-graduação, muitos profissionais também têm se tornado Mestres, Doutores e Pós-Doutores em Ecologia e que são os principais responsáveis pela internacionalização do conhecimento científico-acadêmico.

Por se tratar de uma área do conhecimento interdisciplinar a formação do Ecólogo agrega conceitos das Ciências Biológicas, Exatas e Humanas, o que contribui para a formação de um profissional capacitado para enfrentar questões ambientais complexas da sociedade e dinâmico para trabalhar com profissionais de outras áreas. No Brasil, a Profissão de Ecólogo ainda não é devidamente regulamentada na forma da Lei, mas esse fator não é um impedimento para que o profissional possa aplicar seus conhecimentos.

O Ecólogo está preparado para enfrentar desafios e buscar soluções nas interfaces com as demais áreas do conhecimento. As oportunidades de trabalho estão em Instituições Governamentais, como o Instituto Florestal no Estado de São Paulo, IBAMA, EMBRAPA, Ministério e Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, Prefeituras, Institutos de Pesquisa e Universidades, e Unidades de Conservação. Na Iniciativa Privada, os ecólogos trabalham em Indústrias e Empresas de Consultoria Ambiental, assim como em Organizações Não Governamentais (ONGs). 

Ter um olhar - amplo e holístico, dos ecossistemas, além de poder trabalhar em ambientes muito variados costuma ser um diferencial do profissional. Por possuir uma base biológica muito forte, a visão holística do Ecólogo leva em conta diversos processos e interações que muitas vezes podem passar despercebidas a outros olhos. É típico do Ecólogo enxergar o que há por trás das interações, e querer investigar quais mecanismos estão envolvidos na existência de determinado organismo, e quais as possíveis consequências disso em um sistema complexo. Por exemplo: ao caminhar pela floresta, um ecólogo pode avistar um tucano (Ramphastos toco) em uma embaúba (Cecropia peltata). Neste momento, provavelmente ela vai observar se o tucano está se alimentando do fruto da embaúba, se está apenas usando a árvore de poleiro, se os frutos estão maduros ou não, se há outras aves se alimentando da planta, ou ainda, se há outras árvores frutificando ao redor do animal, para entender porque a preferência foi pela embaúba, e, a partir disso, concluir a importância do papel que essa ave tem como dispersora de sementes na paisagem. 

Fonte: Osvaldo Scalabrini, Mato Grosso do Sul

Em outros casos, como em consultorias, esse olhar analítico do profissional pode ser muito útil para detectar possíveis impactos aos ecossistemas em decorrência das ações antrópicas, ou mesmo prever os efeitos da introdução de animais e plantas nessas áreas, projetando através dos estudos prévios o impacto  de cascatas tróficas, invasões biológicas e da consequência de superpopulações de espécies de animais e plantas (ou da ausência delas) no equilíbrio dinâmico do local de estudo.

Percebemos a ampla definição do ser ecólogo. No entanto, a profissão vem muito mais com esse título do que a carga horária, as atividades complementares ou a área de trabalho que cada um segue. Além desse tal olhar aguçado, desenvolvemos o saber ouvir: o ir de encontro ao acadêmico, mas ao mesmo tempo visitar os saberes tradicionais e então trazer consigo uma voz uníssona. 

Nós nos formamos enxergando a Ecologia no exemplo da floresta, mas isso não se dissocia do nosso dia-a-dia e dos outros espaços. É quando entendemos que a Ecologia está em tudo, que qualquer ação humana passa por uma rede infinita de interações e do resultado só temos a previsão. 

Sobretudo é o entendimento de um conceito simples, de que somos seres individuais, mas também compomos populações, comunidades e ecossistemas. E a partir disso defendemos e respeitamos a Ecologia desde qualquer exemplo do dia-a-dia até nossa escolha como profissão. Seguimos firmes! 

Victoria Godoi, Willian Simioni e Leticia Bulascoschi