Mês da Ecologia – Entrevista Helena Dutra Lutgens

Helena Dutra Lutgens é Ecóloga pela Unesp Rio Claro, mestre em Conservação e Manejo de Recursos, e doutora em Ecologia e Recursos Naturais. Atualmente é pesquisadora do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, trabalhando em Planejamento Ambiental, Manejo de Unidade de Conservação e Educação Ambiental.

 

O que te levou a fazer ecologia? Qual sua trajetória? Qual sua área de atuação? Como você chegou onde está hoje?

A ecologia não entrou em minha vida de forma imediata, durante minha época de colégio eu nem sabia que havia um curso superior de ecologia. Eu queria cursar medicina, e fiz curso preparatório para o vestibular (cursinho) durante 4 anos para isso, mas no quarto ano de cursinho eu comecei a abrir minha mente para outras possibilidades também. Eu gostava muito de biologia de uma forma geral e ecologia em especial, tive um professor no cursinho que me incentivava muito neste ramo, por isso decidi prestar ecologia na UNESP Rio Claro. Prestei os vestibulares e tive resultado positivo em ambos os cursos, e uma dúvida muito grande preencheu meu coração, pois finalmente havia passado em medicina, mas a ecologia já havia tomado lugar. Depois de alguns percalços e insatisfação de uma parte da família, percebi que o que me mais me faria realizada era seguir nos estudos em ecologia, e me aventurei em Rio Claro numa época onde havia muito menos reconhecimento desse ramo frente à sociedade. Foi uma decisão muito importante da qual me orgulho muito, a minha irmã mais velha e meu pai me ajudaram e me apoiaram nessa decisão. Lembro bem de chegar em Rio Claro, da “Semana do bixo”, de conhecer o departamento e a instituição pela primeira vez.

Durante a graduação, procurei estagiar em áreas relacionadas a ecologia de invertebrados, ecologia aquática e marinha, aproveitava todas as oportunidades, era uma aluna que estava sempre no departamento, tinha amizade com os docentes e funcionários, fazia iniciações científicas e me entregava por completo ao curso, pois era o que gostava e sabia que teria que fazer de tudo pra que isso desse certo. Carregava o peso de ter abandonado um curso que me propiciaria estabilidade, por uma carreira incerta, tinha compromisso com minha família. Foi durante a disciplina que se chamava Parques e Reservas ministrada pela Prof. Maria Inez Pagani e Prof. Felisberto Cavalheiro, que entendi que manejo de áreas naturais e Unidades de Conservação seriam as áreas que eu gostaria de me aprofundar, a disciplina oferecia uma viagem de campo que mudou minha vida. Iniciei um estágio voluntário no Instituto Florestal, por indicação do Prof. Felisberto, logo depois de formada, e nessa instituição construí toda minha história profissional. Fui estagiária por um ano e meio, depois passei a ser contratada, fui a primeira ecóloga do Instituto Florestal, em 1994 prestei concurso para Assistente de Pesquisa e em 2004 passei para a carreira de Pesquisador científico. E hoje, há poucos anos de ter o direito à aposentadoria, sigo na luta pela não extinção do Instituto Florestal.

Cheguei onde estou hoje por querer, por ter a vontade de fazer e aprender, por ter encontrado pessoas e ambientes receptivos que acreditavam no meu trabalho, sem hostilidades. O importante em nossa profissão é estar disposto a abrir portas, tornando o curso conhecido, mudando o que estiver ao nosso alcance e trabalhando com muito empenho. Presenciei o curso começar a ser incluso em uma série de concursos públicos e processos de seleção da área ambiental por exemplo.


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Atividade de educação ambiental, Estação Experimental de Itirapina


Como a ecologia ajudou na sua carreira? Na sua atuação hoje? O que mais te motivou/motiva em trabalhar nessa área?

Quando eu cursava Ecologia, eu reclamava muito de várias disciplinas, mas depois de formada e atuando como ecóloga percebo que nossa formação é realmente muito boa e oferece a base para desenvolver a tão dita “visão holística e ampla” do ambiente. Essa visão é o nosso diferencial, pois temos condição de propor soluções imediatas e realizar o planejamento ambiental tomando decisões importantes em relação ao manejo dessas áreas, e isso na minha profissão é muito visível. Sei, contudo, que essa habilidade vem do curso da graduação, em que nós conseguimos ler e entender trabalhos de qualquer área, e usar o conhecimento científico para resolver problemas. Tenho plena convicção que escolhi o melhor curso. O que mais me motiva é a oportunidade de pôr em prática tudo que eu estudei e vivenciei na universidade, tendo uma relação estreita com o meio acadêmico e a realidade do campo.

Qual o impacto do seu trabalho na sociedade e no meio ambiente?

Trabalho no Instituto Florestal que criou e manejou a maioria das Unidades de Conservação (UCs) do estado de São Paulo até 2006, deixando de fazê-lo apenas por motivos políticos, não técnicos. Tive a chance de ver de perto essa inserção da proteção ambiental no contexto das comunidades e da sociedade. O instituto tem impacto direto na sociedade e no meio ambiente, pois atende as demandas necessárias e trabalha para que as pessoas tenham direito e acesso a um ambiente saudável, e um maior bem-estar. Assim, os impactos são diretos no desenvolvimento, visto que interagimos com conservação, pesquisa e produção florestal sustentável.

Quais os principais desafios que você enfrenta?

Conviver com crescentes políticas de desmonte das estruturas do Estado, lembrando que o Estado tem a obrigação de proteger as áreas naturais. A ideia de extinção do Instituto Florestal é muito séria, e a sociedade precisa entender o que há por trás disso. Me questiono: será mesmo pela economia? Acredito que esse argumento não pode ser o principal, visto que já foi provado inúmeras vezes que a conservação nos oferece serviços ecossistêmicos de valores econômicos incalculáveis. Há muito mais coisas por trás dessas decisões de tirar o Estado do compromisso de cuidar do meio ambiente. Antes da proposta de extinção do Instituto Florestal não houve estudo nenhum, nem coleta de dados prévios (pelo menos não foram divulgados), não há precedentes, foi apenas um impulso que vem dessa crescente intenção política neoliberal de desmonte das estruturas sérias que prezam pela sustentabilidade, a fim de facilitar a exploração predatória dos recursos naturais de dentro das Unidades de Conservação.

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