Semana da Engenharia Agronômica - Entrevista Ana Carolina Cardoso de Oliveira

Ana Carolina Cardoso de Oliveira. Engenheira Agrônoma formada pela UFSCar, Mestre em Agricultura e Ambiente (UFSCar) e Doutoranda em Recursos Florestais (USP). Membro do Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais (LASPEF – UFSCar/CCA), atua em pesquisas voltadas para restauração ecológica, mais especificamente com restauração da vegetação herbácea do Cerrado, ecologia de sementes e produção de mudas de gramíneas nativas.

Contatos: accdeoliveira@usp.br ou accdeoliveira@gmail.com


1. O que te levou a fazer agronomia? Qual sua trajetória? Qual sua área de atuação? Como você chegou onde está hoje?


Me interessei desde o ensino médio pela agronomia, quando tinha aulas de geografia e minha professora falava das funções de engenheiros agrônomos enquanto explicava solos. E comecei a pesquisar sobre a profissão, assistir ao Globo Rural e ler muitas coisas relacionadas a agricultura. Minha família não tem raízes rurais recentes, então tive que me aprofundar sozinha nessas questões. Lembro que me encantei lendo sobre o melhoramento genético de tomate, e entrei na agronomia com o objetivo de trabalhar com melhoramento genético de hortaliças. 

Mas, depois que ingressei no curso de Engenharia Agronômica na UFSCar, os planos mudaram um pouco. Me vi pronta pra trabalhar no campo e, busquei temas como sistemas de produção sustentáveis, orgânicos e reutilização de resíduos na agricultura. No meio deste caminho, soube do novo professor de Silvicultura do curso, Dr. Ricardo Viani, e o procurei com a ideia de iniciar algum trabalho relacionado à silvicultura. Fui aceita para participar de seu Grupo de Estudos em Silvicultura e Floresta (GESF), onde pude me inteirar cada vez mais sobre silvicultura com espécies exóticas e nativas, e também onde tive meu primeiro contato com a temática sobre restauração ecológica. No início, desconfiei se Restauração Ecológica poderia ser algo que me chamasse atenção. Mas conforme fui me envolvendo em projetos de restauração florestal com os integrantes do GESF, o tema foi me conquistando. 


Grupo de Estudos em Silvicultura e Floresta (GESF) após realização do III Simpósio de Silvicultura de Nativas no Centro de Ciências Agrárias da UFSCar, em 2017.


No fim do curso, realizei estágio em uma empresa de consultoria ambiental e tive a oportunidade de monitorar áreas de restauração de Cerrado. E, durante esse período conheci, estudei e percebi que gostaria de contribuir de alguma forma para que ações de restauração no Cerrado fossem eficazes. Foi quando defini a área de atuação que queria seguir. A partir de então, formada em Engenharia Agronômica, segui para a pós-graduação, estudando como produzir mudas de gramíneas nativas e reintroduzir em áreas degradadas de Cerrado, sob orientação do também Eng. Agrônomo, Dr. Ricardo Viani.

A formação do Engenheiro Agrônomo, no geral, se baseia principalmente na produção de alimentos de forma segura, rápida e que garanta alta produtividade. Penso que, muitos dos aspectos e ferramentas relacionados à produção de alimentos podem ser utilizados de forma positiva na restauração de ecossistemas, tais como maquinário agrícola, manejo do solo, fertilizantes, sistemas de irrigação, técnicas de beneficiamento de sementes, e técnicas de produção em geral. Mas claro, sempre conectados ao funcionamento, estrutura e composição do ecossistema em questão a ser restaurado.

Assim, tenho como objetivo profissional e pessoal, agregar os conhecimentos que adquiri na agronomia com os da ecologia da restauração, de forma a contribuir para ações de restauração cada vez mais bem sucedidas. 


2. Como a agronomia ajudou na sua carreira? Na sua atuação hoje? O que mais te motivou/motiva em trabalhar nessa área?


A agronomia me proporcionou conhecimentos de diversas áreas (fisiologia vegetal, ecologia, manejo de solo, entomologia, genética, manejo de plantas daninhas, fitopatologia, microbiologia, economia, relações hídricas no sistema solo-planta-atmosfera, nutrição de plantas, mecanização agrícola, extensão rural e várias outras), as quais uso para nortear meus estudos em restauração ecológica. Vejo que a restauração ecológica nos coloca em desafios interdisciplinares, e o conhecimento de como usar recursos e ferramentas das mais diversas áreas é muito importante para alcançar o objetivo de assistir a recuperação de um ecossistema que foi degradado ou destruído. E essa interdisciplinaridade é um dos fatores que mais me motiva a trabalhar nesta área, pois acredito que a junção desses conhecimentos e áreas pode fortalecer nossos objetivos e aumentar nossas chances de sucesso.



Apresentando um pouco do trabalho de mestrado na Conferência Brasileira de Restauração ecológica, em 2018.



3. Qual o impacto do seu trabalho na sociedade e no meio ambiente?


Eu espero com meu trabalho, em primeiro lugar, poder conscientizar pessoas sobre a importância dos nossos ecossistemas, principalmente de campos e savanas do Cerrado, que tem sido meu objeto de estudo ao longo da pós-graduação. E também espero contribuir para o desenvolvimento e popularização de técnicas factíveis para quem pratica restauração ecológica, assim como para o conhecimento de quem a estuda.


4.  Quais os principais desafios que você enfrenta?


Atualmente só o fato de se trabalhar com pesquisa e meio ambiente é um grande desafio. Estamos presenciando muitos retrocessos no que diz respeito à evidência científica e à política ambiental nacional, gerando uma desvalorização gigantesca do nosso trabalho frente à sociedade e muitas vezes nos deixando com poucas esperanças. Mas, assim como na restauração ecológica, temos que pensar em estratégias para avançar diante das dificuldades e recuperar o que foi degradado ou destruído, sejam direitos, leis ou ecossistemas.   





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