Diferentes metodologias de restauração afetam a estocagem de carbono?

 

Baseado no artigo de Zanini et al. (2021)

 

Restaurar áreas degradadas é uma estratégia eficaz para restabelecer os serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas. Estes serviços incluem a mitigação das mudanças climáticas através do sequestro de carbono da atmosfera realizado pelo crescimento vegetal.  A restauração florestal é especialmente importante na Mata Atlântica, já que é um domínio ameaçado pelo desmatamento e altamente fragmentado. Para recuperar com sucesso essas terras degradadas, é necessário aplicar o método mais adequado para cada situação, considerando a resiliência do local e também da paisagem. No entanto, trabalhos comparando diferentes metodologias de restauração são escassos, o que dificulta a restauração da Mata Atlântica. Além disso, os estudos de quantificação do estoque de carbono dessas áreas normalmente consideram somente a biomassa arbórea. Todavia, nessas áreas, os demais compartimentos de matéria viva, morta e até mesmo o solo, são essenciais para o estoque de carbono da floresta e geralmente não são mensurados. 

 

Em nosso artigo publicado na Forest Ecology and Management, avaliamos os estoques, os teores e os isótopos de carbono em florestas em processo de restauração de 5 anos de idade implementadas por diferentes métodos de restauração no sudeste do Brasil. Os métodos de restauração testados foram: i) restauração ativa , ii) restauração assistida e iii) restauração passiva em uma pastagem abandonada com alta aptidão agrícola, foram comparados a uma pastagem em uso e um fragmento florestal remanescente. Os estoques de carbono foram quantificados nos seguintes compartimentos: galhos, troncos, folhas, raízes grossas, raízes finas, herbáceas, serapilheira, madeira morta em pé, madeira morta caída e solo (camadas de 0-1 cm, 5-10 cm, 10-20 cm de profundidade). 

 

Figura 1: Tratamentos utilizados na Fazenda Capoava em Itu, São Paulo. A: Restauração Ativa; B: Restauração Assistida; C: Pasto abandonado; D: Fragmento Remanescente; E: Pastagem


O estoque total de carbono foi maior no Fragmento Remanescente (152,304 Mg C /ha), seguido pela Pastagem (84,378 Mg C ha-1), pela Restauração Ativa (66,414 Mg C ha-1), pela Restauração assistida (65,73 Mg C ha-1) e por fim pela pastagem abandonada (65,581 Mg C ha-1). Todos os métodos de restauração avaliados, têm o potencial de recuperação de áreas degradadas na Mata Atlântica. No entanto, o método de restauração mais adequado varia de caso para caso, considerando resiliência local e da paisagem, tempo e recursos disponíveis. Assim, o total de estoque de carbono não foi significativamente diferente entre os métodos, principalmente pois os locais são muito jovens. No entanto, o estoque de carbono e o teor de carbono diferiu nos compartimentos de acordo com o método de restauração usado e, em todos os casos, o maior reservatório de carbono foi o solo.

 

Além disso, outro fato importante foi que a pastagem (bem manejada) apresentou uma estocagem maior que as áreas em restauração jovens, quando considerado todos os compartimentos, devido ao maior reservatório de carbono no solo, o que mostra a importância da amostragem de cada compartimentos para estimativa do estoque de carbono. Por fim, a análise isotópica mostrou que as entradas de carbono no solo tiveram diferentes fontes, plantas C3 ou C4, e que as árvores nas áreas em restauração já estão levando carbono ao solo, e com o tempo devem ultrapassar os níveis da pastagem.

Figura 2: Resumo gráfico do artigo “The effect of ecologial restoration methods on carbon stocks in the brazilian atlantic forest"

 

Assim podemos concluir que essas florestas jovens (5 anos) já estão sequestrando carbono, um processo essencial na mitigação do aquecimento global, e que monitorar cada compartimento é importante para uma avaliação completa das áreas e real aferição dos serviços ambientais prestados por elas. Por fim, gostaríamos de ressaltar que até onde sabemos, foi a primeira vez que uma área de restauração de Mata Atlântica teve todos os seus compartimentos de carbono avaliados para comparar diferentes métodos de restauração.

 

Confira o texto completo no link: https://authors.elsevier.com/a/1c0Ac1L%7EGwOIAS

 

Bio: Anani Morilha Zanini, é engenheira florestal pela Universidade Federal de Lavras, mestra e doutoranda em Conservação de Ecossistemas Florestais na ESALQ/USP. Atualmente faz parte do projeto NewFor e é Analista Junior na Estação Ecológica de Bananal, junto ao projeto Conexão Mata Atlântica.

 

O presente artigo é resultado de sua dissertação de mestrado, defendida em 2019. A autora gostaria de agradecer os demais autores do trabalho (Mayrinck, R.C.; Vieira, S.A.; Camargo, P.B.; Rodrigues, R.R.), todos os amigos que auxiliaram na etapa de campo e coleta de dados, a FAPESP, CAPES, FEALQ e PPGRF pelo financiamento do projeto, Nino Amazonas pelas revisão do inglês e Isadora Mayrink pelo resumo gráfico.


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