A importância da Caatinga para a conservação da biodiversidade e bem estar humano

 Por Severino Ribeiro Pinto

Foto: Severino Pinto


A Caatinga é a região semiárida mais densamente povoada do planeta, com cerca de 27 milhões de pessoas vivendo em seu território. Segundo o Ministério do Meio Ambiente são identificadas 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas. Além disso, a flora da Caatinga é composta por 4.479 espécies vegetais com elevado número de espécies endêmicas. Esses dados categorizam a Caatinga como uma das áreas de floresta seca mais biodiversa do planeta. 

Em contraste a essa rica biodiversidade, a área de abrangência da Caatinga compreende municípios com as maiores taxas de vulnerabilidade socioeconômica do mundo, tendo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio de cerca de 0,5 e uma grande dependência por parte de sua população dos recursos naturais para a manutenção dos seus modos de vida e processos econômicos. Esse cenário de pobreza extrema impõem um grande desafio de se conciliar o atendimento de necessidades humanas básicas e a conservação dos recursos naturais desse ecossistema. 

Diante disso, a compreensão dos sistemas socioecológicos e sua intrínseca correlação entre a importância dos recursos naturais para a manutenção dos modos de vida do sertanejo são essenciais para a identificação, elaboração e proposição de ações efetivas para a conservação da Caatinga. Fatores como a limitada disponibilidade de acesso a recursos hídricos, a necessidade de garantia da segurança alimentar e energética das populações residentes no semiárido brasileiro são chaves para a formulação de políticas públicas e ações concretas que conciliem o desenvolvimento humano e a salvaguarda da biodiversidade da Caatinga. 

Em adição a isso, ações que contribuam diretamente para mitigação e adaptação aos cenários de extremos de temperatura e potencialização do aumento das fronteiras de desertificação devido às mudanças climáticas são urgentes. Parte da solução desse complexo sistema onde pobreza, biodiversidade, extremos climáticos e necessidade de desenvolvimento humano se inicia com a compreensão pelos agentes públicos e sociedade que a Caatinga “em pé” é essencial para redução da pobreza, conservação da biodiversidade e diminuição das fronteiras de desertificação. 

A importância da Caatinga “em pé” pode ser apresentada através do entendimento do conceito de “Segurança Florestal” que parte da premissa que a garantia e manutenção das seguranças hídricas, energéticas e alimentar dependem diretamente do funcionamento e consequente prestação dos serviços ambientais providos pela Caatinga. A inserção do conceito de segurança florestal em políticas públicas que versem sobre a Conservação, Manejo e Convívio com a Seca são fundamentais e estratégicas para a garantia do acesso ao capital natural da Caatinga de forma racional e equilibrada garantindo o combate a pobreza extrema e a conservação do único ecossistema exclusivamente brasileiro.

**O texto acima é um artigo de opinião, e não representa a opinião de todos os membros do NewFor ou de seus órgãos financiadores.


Modelo de segurança Florestal. Fonte: Melo et al (2020)

Bio: Severino Ribeiro Pinto - Diretor Presidente do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste e Professor Visitante da Universidade de British Columbia

Foto: Severino Pinto



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