Será que começamos a entender os alienígenas?
Por Isabella Ferraz Oppici
Pode-se pensar que a invasão biológica é um assunto muito novo, no entanto, em 1860 Darwin já tinha exposto esse problema e em 1958 Charles Elton, um renomado ecologista, escreveu o livro “Ecology of Invasions by Animals and Plants” expondo a necessidade de conhecimento e controle desses indivíduos. Porém, foi somente em 1980 que a comunidade científica compreendeu o grande problema que as invasões biológicas poderiam representar para os ecossistemas e, apesar desse histórico antigo, ainda hoje existem muitas dúvidas e equívocos na discussão desse assunto.
Figura 1. Invasão biológica representada de forma figurativa. Fonte: autoria própria |
Ainda, se determinada espécie não nativa é levada de forma acidental ou não para um novo local, podem surgir dúvidas sobre como ocorre esse estabelecimento. Williamson (1996) explica que o processo de invasão ocorre em quatro fases distintas que podem ser observadas na figura abaixo (Figura 2). A primeira fase representa a chegada ou introdução, a segunda o estabelecimento ou fixação, a terceira a expansão e por último o equilíbrio dessa espécie.
Figura 2. Esquema representativo do processo de invasão biológico modificado de (Marchante et al., 2001). |
Compreendendo esse estabelecimento, podemos prever que esses indivíduos podem gerar diversas consequências ecológicas e econômicas, como a perda da biodiversidade, competição com espécies nativas, prejuízos em áreas agrícolas, entre outros. Assim, torna-se essencial entender as definições e terminologias utilizadas quando tratamos desse assunto, procurando criar um consenso e clareza no significado de cada um deles, a fim de evitar a propagação de informações incorretas, tanto no cotidiano, como na literatura e divulgação científica.
Pensando nisso, Moro e colaboradores avaliaram como determinados termos relacionados ao assunto estão sendo expostos na literatura botânica brasileira, na literatura internacional e a importância de alinhar essas terminologias. Todas essas definições e sugestões serão então aqui apresentadas (Figuras 3 a 6) e detalhadas, com intuito de tornar possível a apropriação e uso adequado desses termos.
Figura 3. Esquema de terminologias baseado em Moro et al (2012). Fonte: autoria própria. |
Figura 4. Esquema de terminologias baseado em Moro et al (2012). Fonte: autoria própria. |
Figura 5. Exemplos de espécies exóticas presentes no nosso cotidiano. Fonte: autoria própria |
Figura 6. Esquema de terminologias baseado em Moro et al (2012). Fonte: autoria própria. |
Figura 7. Esquema de terminologias baseado em Moro et al (2012). Fonte: autoria própria. |
Reconhecendo com clareza com todas essas terminologias, precisamos refletir sobre as implicações que essas espécies podem ter nos diferentes ecossistemas, tal como em áreas de restauração e a importância de um manejo adequado.Sabendo que o potencial de invasão de determinadas espécies está relacionada com a sua capacidade de dispersão, isto é, a disseminação da espécie, deve haver um maior empenho no controle das espécies exóticas invasoras que são mais agressivas e que podem prejudicar o processo de restauração ecológica.
Além disso, sabendo que as espécies invasoras são consideradas um dos principais obstáculos à regeneração natural, que é uma importante estratégia de recuperação ambiental, é preciso muita cautela e estudos dos impactos que elas desempenham na competição por espaço, luz e nutrientes em relação às espécies com potencial de regeneração, para que estas consigam se estabelecer com êxito nos processos de sucessão.
Dessa forma, podemos entender brevemente a relevância não só do manejo adequado desses indivíduos, como também do uso correto das terminologias que irão embasar os inúmeros trabalhos científicos da área.
Isabella Ferraz Oppici, bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e bolsista de treinamento técnico do Projeto NewFor.
Referências
"Charles Elton". In obo in Ecology, https://www.oxfordbibliographies.com/view/document/obo-9780199830060/obo-9780199830060-0090.xml (acessado em 18 de março de 2021).
MORAES, L. F. D de et al. Plantio de espécies arbóreas nativas para a restauração ecológica na Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguésia, v. 57, n. 3, p. 477-489, 2006.
MORO, M. F et al. Alienígenas na sala: o que fazer com espécies exóticas em trabalhos de taxonomia, florística e fitossociologia?. Acta Botanica Brasilica, v. 26, n. 4, p. 991-999, 2012.
PIVELLO, V. R. Invasões Biológicas no Cerrado Brasileiro: Efeitos da Introdução de Espécies Exóticas sobre a Biodiversidade. ECOLOGIA. INFO 33, 2011.
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