Parque das Neblinas: um laboratório de técnicas de restauração
Por: Paula Dourado,
Coautora: Larissa Campos
O Instituto Ecofuturo é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1999 pela Suzano para contribuir com a transformação positiva da sociedade por meio da conservação ambiental e promoção do conhecimento. Um dos principais desafios, logo no início de sua criação, foi transformar antigas fazendas de plantios de eucalipto da empresa em uma reserva ambiental, hoje o Parque das Neblinas. O Ecofuturo foi responsável pela implantação do Parque no fim da década de 1990 e, desde então, faz a gestão da reserva. Mas para entender melhor todo o projeto, é necessário voltar um pouco no tempo.
As modificações no território onde foi implantado o Parque precedem a chegada da Suzano ao local. Entre as décadas de 1940 e 1960, a Mata Atlântica que existia na área foi, em quase sua totalidade, suprimida para produção de lenha e de carvão, visando o abastecimento da indústria siderúrgica. Com o mesmo fim, tiveram início plantios de eucalipto. Em 1966, a Suzano comprou as fazendas que compõem a área e continuou conduzindo plantios de eucalipto, para a produção de celulose e papel. Na década de 1980, ao adotar critérios de manejo ambiental, a empresa identifica a vocação do local para conservação ambiental e, gradativamente, avança na transformação do território até que, em 2004, o Parque das Neblinas é oficialmente inaugurado.
A reserva possui 7 mil hectares de Mata Atlântica em diferentes estágios de regeneração, cujo processo é incentivado também pela reintrodução da palmeira-juçara (Euterpe edulis), espécie-chave para o equilíbrio daquele ambiente. Mais de 8 milhões de sementes já foram dispersadas no local.
Localizada em Mogi das Cruzes e Bertioga, no estado de São Paulo, a área funciona, ainda, como zona de amortecimento para o maior contínuo remanescente de Mata Atlântica do Brasil, o Parque Estadual da Serra do Mar, protegendo-o, por exemplo, de impactos provenientes do crescimento desordenado da Região Metropolitana da Grande São Paulo.
Pelo conjunto de ações que são desenvolvidas, o Parque das Neblinas é reconhecido como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, dentro programa Homem e Biosfera, da UNESCO.
Figura 1: vista aérea do rio Itatinga no Parque das Neblinas. Créditos: Adventure Camp |
Estratégias de manejo madeireiro e não-madeireiro fomentam a regeneração natural da floresta. Uma das iniciativas é o manejo de impacto mínimo em algumas áreas onde existem plantios remanescentes de eucalipto: são aplicadas técnicas diferenciadas para a retirada parcial ou integral dos eucaliptos – ação que integra estudos sobre estratégias de restauração, que podem servir de modelo e serem replicadas em outras áreas naturais, incluindo pequenas e médias propriedades do entorno.
Figura 2. Mata em estágio inicial e médio de regeneração. Créditos: Acervo Ecofuturo |
O histórico de transformação da área promoveu o surgimento diversas tipologias florestais: de antigos plantios com mais de 20 anos, até remanescentes de Mata Atlântica bem preservados. As diferentes características da biodiversidade local, aliadas aos estudos de manejo desenvolvidos, fazem com que o Parque seja um laboratório de técnicas de restauração e um excelente campo de pesquisa sobre regeneração do bioma.
Figura 3: mapa do uso e ocupação do solo. Créditos: Acervo Ecofuturo |
Atualmente, há cerca de 140 espécies arbóreas, sem contar arbustivas e rasteiras da vegetação nativa da Mata Atlântica, se desenvolvendo sob a copa de antigos plantios de eucalipto, por exemplo. Isso comprova a importância do manejo adequado para o processo de restauração.
Por meio de parcerias com instituições de pesquisa e de ensino, o Ecofuturo fomenta a produção de conhecimento científico, e soma mais de 70 trabalhos já realizados na área. A partir dessas pesquisas, registrou-se mais de 1.250 espécies, incluindo a descoberta de três novas para a ciência: dois anfíbios e um inseto. A reserva abriga, também, 23 espécies enquadradas nas categorias Vulnerável (VU) e Em Perigo (EN), segundo a lista vermelha da IUCN, como o muriqui-do-sul, o sagui-da-serra-escuro e a jacutinga.
Hoje, o Parque das Neblinas é campo para um estudo sobre uma nova tecnologia que monitora áreas em restauração florestal na Mata Atlântica, realizado por pesquisadores da ESALQ/USP (Projeto NewFor). O modelo consolidado deverá resultar em inovações tecnológicas, conhecimento científico e mapas temáticos para uso em políticas públicas, que podem impactar positivamente a forma como a restauração de paisagens florestais é planejada, implementada e monitorada.
A reserva é também um dos sítios de estudo do muriqui-do-sul, maior primata das Américas e ameaçado de extinção. Por isso, desde 2018, o Parque é território de atuação do Plano de Ação Nacional (PAN) para a conservação do muriqui, coordenado pelo ICMBio, com o objetivo de ampliar o conhecimento e a proteção da espécie, e tentar reverter seu grau de ameaça.
No interior do Parque, foi estabelecida uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), com 518 hectares de vegetação mais preservada – uma contribuição formal da Suzano e do Ecofuturo ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Além das iniciativas mencionadas, são também desenvolvidos na área atividades de ecoturismo, envolvimento comunitário e educação ambiental, com o objetivo de ressignificar a relação do ser humano com a natureza a partir da reconexão e do contato direto com o ambiente natural.
Figura 4: vista aérea da Região Metropolitana da Grande São Paulo, dos remanescentes da Mata Atlântica e do perímetro do Parque das Neblinas. Créditos: Acervo Ecofuturo |
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Paula Dourado é Consultora de Comunicação do Instituto Ecofuturo, onde atua desde 2015. Pós-graduada em Gestão de Marketing e Comunicação pela ECA/USP e jornalista formada pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), soma mais de 15 anos de experiência na área de Comunicação.
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