NewFor Entrevista: Paulo Molin

 17 de Junho é o Dia do Gestor Ambiental, e para comemorar essa data fizemos uma série especial de entrevistas com gestores ambientais que atuam em diferentes áreas e que nos contam um pouco sobre suas trajetórias na profissão, suas principais motivações e desafios. Nosso terceiro entrevistado, Paulo Guilherme Molin , é formado em Gestão Ambiental na ESALQ/USP e atualmente é professor na UFSCar na área de Gestão Ambiental para o curso de Engenharia Ambiental, Coordenador do laboratório de geoprocessamento e do grupo de estudos e pesquisa chamado Centro de Pesquisa e Extensão em Geotecnologias – CePE-Geo, professor e orientador no Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis da UFSCar e no Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da ESALQ.


1. Como você chegou onde está hoje? O que te levou a fazer Gestão Ambiental? Qual sua trajetória? Qual sua área de atuação?

Lembro de ter recebido um documento com divulgação do curso de Gestão Ambiental da ESALQ/USP, logo que foi criado. Eu ainda estava no ensino médio e já tinha uma tendência por seguir uma área que misturasse um pouco da questão ambiental e florestal com a social e econômica. Em seguida participei de uma feira de profissões promovida pela ESALQ, o que me motivou ainda mais a buscar esse curso. Lembro ainda que nessa época do ensino médio eu já procurava cartas topográficas do IGC, em papel, para localizar cachoeiras na região da Serra de São Pedro. Isso me levou a ter outras curiosidades, como descobrir as nascentes e entender um pouco mais sobre bacias hidrográficas e como aquela paisagem influenciava na qualidade da água. Eu também já tinha acesso a um receptor GPS e sabia manusear ele para navegação no campo. Juntando todas essas curiosidades, interesses e conhecimentos, eu já entrei no curso de Gestão Ambiental da ESALQ (3ª turma) com um certo foco em pesquisa. Ainda no primeiro semestre me interessei pelo assunto de restauração florestal, e então solicitei um estágio para o Prof. Ricardo Rodrigues. Ele me encaminhou para uma aluna de doutorado dele que estava desenvolvendo uma pesquisa com nutrição de mudas de restauração. Logo em seguida passei em um processo seletivo com o Prof. José Luiz Stape, que estava criando um banco de dados em Access dos projetos e experimentos das Estações Experimentais do departamento de Ciências Florestais. Por acaso, nesse estágio, me deparei com o mundo dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e sensoriamento remoto, o que de certa forma abriu minha mente para muitas outras possibilidades. No segundo ano tive uma iniciação científica PIBIC aprovada, onde usei ferramentas de SIG junto com análise multicritério para definir áreas prioritárias para alocação de Reserva Legal de propriedades agrícolas, usando variáveis ambientais e econômicas. Participei de outras pesquisas, trabalhando inclusive com arborização urbana. Também fiz parte de projetos e grupos de extensão, como o Grupo Florestal Monte Olimpo, onde desenvolvi diversas atividades práticas de planejamento, implantação e monitoramento florestal. No último ano de graduação resolvi experimentar um pouco do mercado de trabalho e fui fazer estágio com licenciamento e supervisão ambiental de obras na empresa Geotec Consultoria Ambiental, onde fui contratado logo que formei. Fiquei pouco tempo na Geotec pois já tinha em mente fazer um mestrado e doutorado, focado em futuramente fazer um concurso para professor/pesquisador. Fiz um mestrado em Tecnologias Geoespaciais pelo consórcio Erasmus Mundus da União Europeia, trabalhando com análise temporal do estoque de carbono de todo o país de Portugal. Ao voltar para o Brasil, trabalhei com o Prof. Paulo Kageyama em um projeto de P&D sobre quantificação de carbono em restauração florestal. Também me inscrevi no doutorado no Programa de Pós-Graduação em
Recursos Florestais da ESALQ. No doutorado, sob orientação do Prof. Silvio Ferraz, coordenador do Laboratório de Hidrologia Florestal, apliquei meus conhecimentos de geotecnologias na modelagem e dinâmica da paisagem e modelagem hidrológica da bacia do rio Piracicaba. 
Fiz ainda dois pós-doutorados, um com o Prof. Pedro Brancalion, desenvolvendo um modelo espacialmente explícito de probabilidade de regeneração natural; e outro com os professores Gerd Sparovek e Jean Paul Metzger, tratando do Programa de Regularização Ambiental do estado de São Paulo.



Essa minha história acadêmica me levou à posição de professor na UFSCar, onde hoje leciono na área de Gestão Ambiental para o curso de Engenharia Ambiental e coordeno um laboratório de geoprocessamento e o grupo de estudos e pesquisa chamado Centro de Pesquisa e Extensão em Geotecnologias – CePE-Geo. Também sou professor e orientador no Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis da UFSCar e leciono no Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da ESALQ. Minhas pesquisas são majoritariamente voltadas para aplicação de geotecnologias para a área florestal, tendo ainda destaque recente para aplicação de aeronaves remotamente pilotadas no monitoramento da restauração. No projeto temático FAPESP NewFor coordeno as atividades de pesquisa que se utilizam de geotecnologias, como geoprocessamento, análises multicriteriais, sensoriamento remoto, LiDAR e aeronaves remotamente pilotadas – com o intuito de compreender os benefícios das “novas florestas” para o Homem e natureza.



2. Como a Gestão Ambiental ajudou na sua carreira? Na sua atuação hoje? O que mais te motivou/motiva em trabalhar nessa área ? 


A primeira vez que entendi a importância da minha formação em GA foi quando ainda estagiava com licenciamento ambiental e tive que me sentar em uma mesa e discutir sobre problemas ambientais de uma determinada obra. Nessa mesa estavam presentes um engenheiro florestal, uma engenheira civil, um advogado e um administrador do empreendimento e ninguém se entendia pois tinham visões muito fechadas sobre o problema, com pouca visão interdisciplinar. Foi nesse momento que entendi a importância do profissional de gestão ambiental, um mediador de conflitos e interesses ambientais e econômicos. Segui esse pensamento de que o gestor ambiental tem a capacidade de mensurar os riscos ambientais e os ganhos econômicos de determinadas atividades, sabendo balancear o uso dos recursos naturais. Encontrei nas ferramentas de geotecnologias os meios para estudar, quantificar e qualificar os impactos causados pelo Homem no meio ambiente, ajudando a planejar e monitorar atividades como restauração florestal. Hoje tenho como meta incentivar meus alunos e orientados a buscarem conhecimento sobre novas tecnologias, além daquelas que eu ensino.



3. Qual o impacto do seu trabalho na sociedade e no meio ambiente?


Todas as minhas pesquisas são aplicáveis em cenários reais e atuais. Gosto de saber que soluções sendo propostas e resultados apresentados podem contribuir para políticas públicas que solucionem problemas reais e evidentes.


4. Quais os principais desafios que você enfrenta?


Como gestor ambiental, meus desafios sempre foram de reconhecimento profissional no mercado de trabalho, dominado por biólogos e engenheiros, que possuem vasto histórico de reconhecimento, regulamentação e conselho profissional. Há ainda a dificuldade de explicar que existem cursos de gestão ambiental com perfis diferentes, mesmo que com o mesmo nome. Apesar de não atuar mais na área de consultoria ambiental, acredito que essas questões ainda
são um desafio para os profissionais de GA. 
O meu grande desafio atual infelizmente é o negacionismo. Estamos no século 21 e o cientista sabe promover sua ciência para outro cientista com certa perfeição, mas tem uma dificuldade enorme de repassar esse conhecimento para o dia a dia da população ou de o inserir em uma política pública.










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