O papel da Educação Ambiental para a conservação da Mata Atlântica

 Por Amanda Martins Gasparini



Desde o passado, o homem se relaciona diretamente com a natureza para a manutenção de sua sobrevivência e desenvolvimento em sociedade. Porém, com o passar do tempo, a espécie humana passou a expandir seu conhecimento em termos científicos, tecnológicos e culturais ao ponto de tornar sua relação com a natureza um processo exploratório e de grande impacto ambiental.

A busca pelo progresso teve como consequência uma modificação de sua relação com a natureza, que antes era mantida de forma equilibrada, a fim de atender apenas às necessidades básicas de sobrevivência. Entretanto, ao longo das gerações, o homem assumiu uma posição superior à natureza, no qual se tornou capaz de consumir, controlar e transformar os recursos naturais em um ritmo agressivo e que gera diariamente impactos ambientais, tais como: poluição do ar, solo e água, mudanças climáticas, degradação de biomas, devastação da biodiversidade da fauna e flora, geração de resíduos etc.  

A história sobre a relação homem-natureza pode ser estabelecida em dois pontos principais, porém, ambos contraditórios: de um lado, a sociedade moderna avançou seu conhecimento para aumentar a longevidade e reduzir a mortalidade de nossa espécie, mas, por outro, essas ações originaram diversos riscos que ameaçam drasticamente a vida humana (BURSZTYN & PERSEGONA, 2008). Com base nisso, o distanciamento da natureza permitiu que o homem não se considerasse mais como parte do meio ambiente, fazendo com que nossa espécie se sinta como um elemento externo e superior à natureza na qual vive. Consequentemente, essa ideia antropocentrista delineou os diversos problemas ambientais gerados em nosso planeta. Como um exemplo próximo a nossa realidade e diretamente relacionado com o projeto NewFor, podemos citar o desmatamento da Mata Atlântica, que já perdeu cerca de 90% de sua vegetação original em nosso país (SOS MATA ATLÂNTICA, 2021). 

Figura 1: Desmatamento da Mata Atlântica. Foto: Welington Pedro de Oliveira.

Assim, a Educação Ambiental torna-se um elemento essencial para o enfrentamento da crise do meio ambiente. Essa área vem ganhando cada vez mais importância no intuito de refletir de forma crítica sobre nossas práticas sociais em relação ao planeta. A Educação Ambiental apresenta uma dimensão gigantesca através da interdisciplinaridade do conhecimento para construção de novos atores sociais que possam entender sobre a complexidade do meio ambiente e a forma de como nós nos articulamos com a natureza ao nosso redor.   

Uma das bases para a construção do conhecimento está relacionada com a contextualização dos saberes disciplinares com a realidade e a vivência das pessoas. A Mata Atlântica pode ser um exemplo disso, pois  além do incentivo às pesquisas e conservação desse domínio, é necessário ampliar a forma como o conhecimento irá chegar diretamente à comunidade que vive próxima a esses fragmentos. 

Uma das formas de iniciar um projeto de Educação Ambiental com a população é identificar a percepção que os indivíduos têm sobre a natureza e a forma de como ambos se relacionam, como por exemplo: suas satisfações, insatisfações, julgamentos, processos cognitivos, expectativas etc . Desse modo, é importante conhecer a visão de mundo de nossa sociedade para que futuramente possam criar estratégias e permitir a participação  ativa para a resolução dos problemas detectados. Através da reflexão e diálogo sobre a degradação da Mata Atlântica, é possível construir um cidadão com papel ativo, crítico e com responsabilidade social e ambiental. Consequentemente, há uma maior sensibilização  dos indivíduos sobre o tema ao mesmo tempo em que se evidencia a importância da conservação do meio em que vivem (ARAGÃO, 2010).

Figura 2: Projeto de Educação Ambiental “Aprendendo com a Mata Atlântica”. Fonte: SOS Mata Atlântica.

Ao falarmos de Educação Ambiental, também devemos considerar a escola com um papel fundamental na conscientização e transformação em uma sociedade sustentável. O professor, ao ser mediador no processo de ensino e aprendizagem, deve ter em mente o contexto e os problemas locais que estão inseridos diretamente na vida dos alunos que vivem nas regiões de Mata Atlântica, tais como: poluição, abastecimento hídrico, espécies locais que estão em risco de extinção, o uso de solos etc. Assim, com base na realidade e experiências vividas pelos indivíduos, é possível conectar o conhecimento científico com o cotidiano, o que torna o aluno não apenas um expectador, mas sim um sujeito ativo e crítico na transformação socioambiental (SATO & CARVALHO, 2005; FRAGOSO & NASCIMENTO, 2018). Dessa forma, ao trabalhar com a Educação Ambiental com foco na Mata Atlântica, é importante que a escola se torne um ambiente de integração social, ou seja, um espaço onde o aluno possa exercer sua criatividade, promover debates e projetos, criar estratégias para a resolução de problemas socioambientais, realizar atividades artísticas e culturais, fazer passeios em trilhas ecológicas etc., tudo no intuito de aprender e sensibilizar os indivíduos através de sua aproximação do tema e dos ambientes naturais.  


Figura 3: A importância de realizar atividades em contato direto com a natureza como uma ferramenta na área de Educação Ambiental. Na imagem vemos crianças de 08 a 10 anos participando de uma trilha ecológica no curso de férias do Jardim Botânico Municipal de Bauru, São Paulo. Fonte: autoria própria.


Portanto, apesar de ser uma área do conhecimento bastante complexa e desafiadora, a Educação Ambiental apresenta um grande destaque ao promover mudanças na percepção e nos valores da população sobre a natureza que nos cerca, como no caso da Mata Atlântica, que apresenta um histórico complexo de devastação devido às ações antrópicas. Assim, a busca pela sustentabilidade e conservação não deve ser restrita apenas à comunidade científica, mas sim à sociedade como um todo. Devemos valorizar as práticas educativas socioambientais, pois é a partir delas que nossas futuras gerações serão capazes de progredir à nível individual e coletivo para uma sociedade mais crítica, participativa e consciente sobre seu papel e integração com o meio ambiente. 



Amanda Martins Gasparini é formada em bacharel e atualmente cursando licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Participante do Projeto NewFor como bolsista de Treinamento Técnico pela FAPESP.


Referências:

ARAGÃO, A. K. O. A biotecnologia e a educação ambiental no resguarde a duas espécies em vias de extinção na flora da Mata Atlântica Brasileira. 2010. 137 f. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente, Cultura e Desenvolvimento) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.

BURSTYN, M.; PERSEGONA, M. A grande transformação ambiental: uma cronologia da dialética homem-natureza. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

FRAGOSO, E; NASCIMENTO, E. C. M. A Educação Ambiental no Ensino e na Prática Escolar da Escola Estadual Cândido Mariano–Aquidauana/MS. Ambiente & Educação, v. 23, n. 1, p. 161-184, 2018.

JACOBI, P. Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para a reflexão. In: CAVALCANTI, C. (Org.). Meio ambiente, Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. desenvolvimento sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez Editora, 1997.

SATO, M.; CARVALHO, I. Educação ambiental – Pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SOS MATA ATLÂNTICA, 2021. Disponível em: < https://www.sosma.org.br/causas/mata-atlantica/> Acesso em: 26 abr. 2021.


Contato:

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Instagram: @amandaagasparini


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